Carta do Vaticano

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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Páginas do pergaminho do 1.º catecismo dos Monges de Alcobaça - códice séc. XIV/XV

Redução da página 172 da História da Catequese, reproduzindo uma página do pergaminho do 1.º catecismo dos Monges de Alcobaça - códice séc. XIV/XV

Catecismo do P. Fr. Zacarias de Paio de Pele
O mais antigo catecismo português, que até agora se conhece, encontra-se num dos Códices Alcobacenses cuja autoria é atribuida a Frei Zacarias de Paio de Pele, monge do Real Mosteiro de Alcobaça.


"Começam-se os Dez Mandamentos, que son dictos moraes e naturaaes.
Tres cousas há mester todo homç, e toda mulher pera ser salvo. A primeira ha mester, que guarde os mandamentos de Deus per obra. A segunda ha mester, que crea os artigos da fé com firme creença. A terceira há mester, que receba en si os sacramentos da Sancta  Egreja. Os mandamentos, que homç há de comprir per obra som dez. Estes dez mandamentos som dictos moraaes e naturaaes. Moraaes, quer dizer acostumados; e som dictos acostumados, per que regram o homç em todo o boõ costume. Ca sem guardar estes dez mandamentos nõ pode nç hui homç, nç molher seer honesto, nç bem acostumado. Mais convem pera seer homç bem acostumado, que guarde estes mandamentos de Deus, que son assi como começo de toda boa obra, e boõ costume. E  todos boõs custumes que homç pode aver en si com estes mandamentos de Deus aproveita. E sem elles nõ aproveita ao homç nem huã cousa pera  salvaçon. Som dictos naturaaes, per que son scriptos no entendimento do homç E naturalmente he todo homem, e toda molher obligado a guardar-los por divido de creaçon, assi como toda creatura naturalmente he obligada a obedecer a seu criador.                               
O primeiro destes dez mandamentos he este: O teu Senhor Deus hui soo he, a este sóo adorarás, e a este servirás, e este temerás, e este amarás de todo teu entendimento, e de toda tua voontade, e de toda tua memoria, e de toda tua força corporal, e spiritual. Que quer dizer a este Senhor serás todo sujecto, scilicet, a alma e o corpo. O segundo he non tomarás o nome de Deus en vaão: que quer dizer, non jurarás  falsamente, nem sobejamente sen razon, nem  enganosamente polo nome de Deus, non minguando a sua  honrra quanto he en ti; sentindo mal  en algua cousa del. Ca non será sen pena aquelle, que sobre cousa vaã tomar o seu nome. O terceiro he: seis dias da  somana trabalharás, e farás todas tuas obras, e o septimo folgarás. Ca dia he de folgança do teu Senhor Deus, e guarda-te,  que faças en este sancto dia, fazendo en ele sanctas obras, assi como te manda o teu Senhor Deus".


"Non farás en este dia nem huã cousa tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu boy, nem teu asno, nem outra besta, nem o estranho, que morar contigo dentro das tuas portas, e te serve. Salvo se for obra de necessidade, que se non possa escusar, ou de piedade. Ca este dia te mandou Deus folgar. Por que en seis dias fez Deus o Ceo e a terra, e folgou o septimo dia.  E porque te acordes en como te  livrou do poder do diabo, a que  servias en peccado mortal, pola sua paixão, e pola sua sancta Resurreiçon, e por cuja reverencia guardamaos nós os Cristaaõs o domingo. O quarto mandamento he:  honra teu padre, e tua madre, por que vivas longo tempo, e te  vaa bem na terra. Ca o teu Senhor Deus te dará, e isto se entende en duas maneiras de honrra. A huã honrrando-os con reverencia, e con humildade de palavras e gesto. A outra ministrando-lhes as cousas necessarias pera a vida corporal en tempo que lhes  faz mester. O quinto mandamento he: non matarás com maaõ de força corporalmente, nem dando ajuda, nem favor, nem com voontade consentindo dentro na alma, ou conselhando, nem lhe tirarás a ajuda da vida a aquelle, que deves, e a podes dar. Assi  como diz Sam Jeronimo, que aquelle, que non farta  aquelle, que morre de fame, que el he o que o mata. O sexto mandamento he: non farás fornizio de feito, nem de consentimento de voontade, nem se chegará o barom aa molher; nem a molher  a nem hui barom. Salvo aquelles, que forem juntados per matrimonio, assi como Deus ordinou. O septimo mandamento he: non furtarás, nem roubarás, nem  enganarás, nem husarás de cousa alhea en nem huã maneira, sen  voontade de seu dono. O octavo he: non dirás falso testemunho, nem afirmarás nem huã mentira, nem huã falsidade contra teu Christaaõ. Paramentes que aqui defende Deus teu Senhor toda mentira, tanben aquellas em que parece, que ha hy prol, como aquellas en que ha damno.  O nono he: non cobijçarás cousa alhea, scilicet, do teu proximo. Aqui defende o nosso Senhor Deus, diz Santo Agostinho, toda cousa do proximo, que non he movil, assi como casa, ou terra, ou vinha. O decimo he: non desejarás a molher do teu proximo, nem o sseu  servo, nem a ssua serva, nem boy, nem asno, nem outra cousa nem hua sua".

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